Hospital da Mulher tem instalação de artista visual de Mossoró

O Rio Grande do Norte terá um marco temporal, de um antes e depois no que diz respeito à saúde da mulher no estado: o Hospital da Mulher de Mossoró. Obra que vai muito além de uma superestrutura de 15 mil metros quadrados e 160 leitos instalados, a unidade de saúde foi pensada para acolher as demandas do que é ser mulher no século XXI. Foi pensando na magnitude que essa obra representa, que a artista visual Nôra Aires, 61 anos, dedicou meses de sua vida refletindo para trabalhar em um de seus projetos denominados de “instalação escultórica” – que já está compondo a paisagem do Hospital da Mulher, logo na entrada.

Experiente em criar obras permanentes - e públicas - criadora da instalação escultórica “O Bando do Cancão Acrobata”, que fica no Parque Ecológico Municipal Prof. Maurício de Oliveira, em Mossoró, além de várias outras obras espalhadas por sua cidade natal, Nôra Aires percebeu que uma única peça não seria o suficiente para sustentar a importância do Hospital da Mulher. Ela diz que teve muita receptividade por parte do corpo técnico da Engenharia, tanto da Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap), quanto da empresa contratante e da Gestão de Projetos do Governo Cidadão na hora de apresentar suas cinco ideias iniciais.

A partir dessa receptividade, ela diz que começou a juntar as peças e conferir um conceito e assim nasceu a obra, que ela ainda não batizou, mas que em breve contará com uma plaquinha de créditos no local. Segundo explicou, são três figuras principais que exaltam o feminino e mais duas que compõem o total da arte escultórica, que tem em torno de 2,40 metros de comprimento, aproximadamente, 3,5 metros de altura e ocupação de 3 metros quadrados de área.

Nôra Aires aliou a engenharia agronômica, estudada na atual Ufersa, nos anos 1980, com a inquietação artística que sempre a acompanhou desde as observações da forma delicada e organizada de sua mãe dona Tilinha – uma mulher que compreendia a importância da reciclagem e do reaproveitamento de materiais muito antes de isso virar pauta ambiental - e da irmã mais velha 11 anos, que desenhava divinamente. Essa vivência doméstica ganhou contornos “revolucionários” durante a época da faculdade. Antes de se encontrar como artista visual, Nôra experimentou o teatro, sobretudo na parte de cenografia e figurino; e também na música, tendo participado de Festivais como o do Forte, em Natal, dentre outras atividades artísticas. Essa mistura inusitada fez dela uma pesquisadora do bioma caatinga e uma estudiosa de como levar elementos de sua profissão acadêmica para a criação de suas obras.

As peças feitas para o Hospital da Mulher – que será a maior unidade hospitalar do Estado – fazem parte dos estudos “seres” que ela cria desde os anos 2000 e que são um olhar seu, particular, sobre o humano. Essas, em especial, representam o feminino. “Sei do momento ímpar que estamos vivendo. Sei da importância desse Hospital para a saúde da mulher, que será referência, será um local de acolhimento para o que é ser mulher em toda nossa diversidade”, reconhece ela.

O fato de realizar obras que ficam expostas na rua, nas praças, nas fachadas de prédios, faz toda a diferença para a artista. “Não é uma obra silenciosa, ou que fica nas paredes de particulares. Adoro quando ouço as interpretações das pessoas sobre o que faço. A obra reverbera nas pessoas”, diz. As peças foram construídas com ferro e placas cimentícias.

Nôra queria atrair pela cor e pela forma e, ao mesmo tempo, poder falar de “mil coisas”. “Arte quando você expõe na rua é uma grande responsabilidade, porque você está se conectando com milhares de pessoas.” As peças são multidimensionais. É possível passear o olhar por vários lados e ângulos, bem como por dentro, já que são vazadas. As cores da diversidade foram escolhidas para compor a obra do Hospital da Mulher.

“Tivemos a preocupação de não interpretar o ser mulher apenas no olhar convencional. Exaltamos o feminino em todas as suas possibilidades. O útero, por exemplo, se apresenta não como um órgão interno, mas um órgão que está disposto em cima de uma estrutura”, descreve ela, acrescentando que a obra colorida tem um lúdico, mas não foi pensada para distrair e sim para atrair o olhar e os detalhes, que são vários.

Indagada sobre o que ela pretendia comunicar com essa obra, Nôra que é uma profusão de ideias, intenções e criatividade, tenta sintetizar: “nesse momento que vivemos, tão delicado, com tanta desinformação, misoginia, homofobia e, ao mesmo tempo, surgindo e emergindo novas possibilidades de viver o feminino, pessoas ganhando visibilidade, eu quis com essa obra que nosso olhar se abrisse para as necessidades dos indivíduos, para mais respeito e igualdade, para todas as mulheres. Todos os seres”, resume.

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